Com genética britânica, Braford se firma no Centro-Oeste do Brasil

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Animais da raça Braford em exposição na Tecnoshow Comigo (Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo)

Cruzamento do britânico Hereford com o zebuíno Nelore, o Braford vem ganhando espaço no Centro-Oeste brasileiro. A representatividade no rebanho total da raça ainda é pequena, mas criadores e especialistas na raçaacreditam no potencial de adaptação e de desenvolvimento dos planteis na região.

De acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Hereford e Braford (ABHB), em 2015, eram contabilizados 300 mil animais Braford registrados (aqueles que são utilizados na seleção e melhoramento) no Brasil. Nos estados do Centro-Oeste, eram 25 mil. Mas o número referente à região representa um crescimento de 56,25% em relação aos registrados em 2014, que eram 16 mil.

“Esse número é expressivo para nós”, diz Felipe Azambuja, gerente de operações da ABHB. Ele acredita que o rebanho Braford no Centro-Oeste seja ainda maior, quando se considera que o gado de produção, destinado ao abate, não é necessariamente incluído no controle genealógico, feito pela entidade que reúne criadores.

Fernando Fonseca é um dos pecuaristas que resolveu adotar a raça como base de seus negócios com gado bovino. Natural de Jaguarão (RS), há dez anos foi para Rio Verde (GO). Começou com o Nelore e, há cinco anos, adquiriu 200 matrizes para iniciar a transição para o Braford. No site oficial da ABHB, o proprietário da Fazenda Querência é o único listado como criador em Goiás.

“A raça se adaptou muito bem. Sem problema de fertilidade ou de alimentação. Estou aumentando o Braford e tirando o Nelore”, explica Fonseca.

Seu rebanho atual é de mil cabeças das duas raças. Sua produção está em torno de 230 animais por ano, metade machos. Desses, 70 são Braford. Parte é separada e registrada para seleção e outra parte vai para o abate. A outra metade da produção anual, a de fêmeas, é integrada ao processo de melhoramento.

“Entre 2 e 3 anos, devo ter só Braford na minha fazenda”, estima o criador que, nesta semana, levou alguns de seus animais para Tecnoshow, feira de tecnologia agrícola realizada pela Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), também em Rio Verde. Foi sua quarta participação no evento. “Por enquanto, foi só para divulgar a raça. A partir do quinto ano, espero mais negócios”, garante.

Boa adaptação
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Capitão, Braford de 400 quilos e 18 meses. “Tem mais 29 irmãos dele”, diz Fernando Fonseca, proprietário da Fazenda Querência e dono do animal (Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo)

A boa adaptação do Braford ao Centro-Oeste é explicada, em boa parte, pelo próprio cruzamento que o origina, dizem especialistas. Respondendo por 5/8 da composição genética da raça sintética, o Hereford – que encontra ambiente propício em locais de clima mais ameno, como o Sul do Brasil – responde por fatores como qualidade de carcaça e marmoreio da carne. Os 3/8 restantes, a parte do Nelore, traz a chamada “rusticidade” e confere ao Braford a capacidade de suportar, por exemplo, as temperaturas mais quentes do Brasil central.

“Ainda há pouco conhecimento sobre a raça”, acredita o técnico de registros da Associação Brasileira de Hereford e Braford no Centro-Oeste, o veterinário Witis Baes Rodrigues, que também esteve na Tecnoshow, onde ministrou uma palestra sobre o assunto.

Doutor em bovinocultura pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rodrigues vive em Mato Grosso do Sul, onde chegou em 1999.  Conta que, na época, já se falava no cruzamento industrial com raças britânicas. Mas, entre 2002 e 2003 houve o que chama de “movimento contrário”, por conta da dificuldade de adaptação desse tipo de gado às condições da região. Para piorar, em 2005, ocorreram casos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e no Paraná, prejudicando a pecuária bovina nacional.

“A partir de 2008 e 2009, houve a retomada do interesse no cruzamento com raças britânicas. Os frigoríficos começaram a demandar mais carne diferenciada”, explica o veterinário. Começou com o Angus e se expandiu para outras raças, como Hereford e, consequentemente, o Braford que, defende ele, é a que tem maior potencial de desenvolvimento no Centro-Oeste pelas próprias características que apresenta.

O manejo do gado, assim como sua seleção, deve ser bastante criterioso, explica Rodrigues. A alimentação é basicamente a pasto, mas se for feita a opção pelo confinamento, o veterinário afirma que a capacidade de adaptação do Braford também é relativamente rápida. “Entra no cocho comendo”, diz.

Dependendo das condições, a desmama pode ocorrer com o peso maior e o abate ser encurtado. “Fazendo suplementação com creepfeeding, o bezerro desmama com 300 quilos e o abate é feito entre 14 e 16 meses, com 18 arrobas. Sem isso, a desmama é feita com o animal pesando entre 240 e 250 quilos e o abate ocorre entre 20 e 22 meses com 19 arrobas de peso”, acrescenta o veterinário.

E como a raça visa atingir um mercado de carne considerado diferenciado e com produto de qualidade superior, as bonificações podem variar de 2% a 8% sobre o preço médio da arroba, a depender de critérios como tipo de acabamento ou se o animal a ser abatido é macho ou fêmea.

Por Raphael Salomão, de Rio Verde (GO)

Globo Rural

*O repórter viajou a convite da Comigo

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