Frigoríficos Investem no Mercosul

Indústrias compram plantas nos países vizinhos para fazer “hedge” sanitário e expandir exportações.

Os frigoríficos brasileiros investiram, nos últimos 12 meses, US$ 305 milhões na aquisição de plantas no Mercosul. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), empresas nacionais têm hoje três unidades em cada país do bloco – exceto na Venezuela, membro recém incorporado ao Mercosul. Novas incorporações podem ser anunciadas em 2007.

A internacionalização das indústrias brasileiras começou com o Grupo JBS-Friboi, primeiro a comprar uma unidade, no ano passado, na Argentina. O último lance foi do Marfrig, com a aquisição de plantas no Uruguai e na Argentina. Junto com o Bertin as empresas são os três maiores frigoríficos brasileiros.

“O fenômeno é parte da evolução natural do setor”, afirma Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da Abiec. Segundo ele, além das plantas frigoríficas, as empresas também estão buscando adquirir unidades apenas de industrialização, sem abate de animais.

Segundo analistas de mercado, a expansão dos frigoríficos brasileiros no Mercosul é uma estratégia para combater os problemas sanitários em determinadas regiões produtoras e expandir suas vendas aos Estados Unidos e Europa. “Buscamos a diversificação e também um ?hedge? sanitário”, atesta Wesley Mendonça Batista, diretor-executivo da Unidades de Negócios de Alimentos do Grupo JBS-Friboi. Ele garante que a empresa, que com as aquisições tornou-se a principal do Brasil e da Argentina, além de quarta maior do mundo, poderá comprar outras plantas, inclusive no Paraguai – atualmente ocupado apenas por pequenas indústrias brasileiras que têm unidades próximas à fronteira – e em outros países da América Latina. “A região tem os menores custos de produção do mundo”, explica Batista.

Batista acrescenta que os mercados para as carnes do Brasil e dos demais países do Mercosul são diferentes. Enquanto em nossos vizinhos a criação é de gado europeu – cujo marmoreio permite uma carne mais macia e, conseqüentemente, gordurosa – , no Brasil a predominância é de zebuínos – que resultam em produtos mais “magros”. Pratini de Moraes diz que enquanto alguns países preferem um tipo, outros optam pelo outro. Mas na avaliação dele, o mercado é mais promissor para a carne fruto de cruzamento industrial com as duas raças.

Além da questão sanitária, a abertura do mercado de carne in natura dos Estados Unidos e a ampliação das vendas para a Europa pesaram nos investimentos das indústrias brasileiras. “Se o Brasil não expande, acessamos por outros países”, diz Pratini de Moraes. No Mercosul, apenas o Uruguai pode vender carne in natura para os Estados Unidos e a recorrência de focos de aftosa no Brasil pode fazer com que os argentinos obtenham este aval antes dos brasileiros. Por outro lado, a Argentina e o Uruguai têm uma cota Hilton superior à do Brasil: 30 mil toneladas ante 5 mil toneladas. Ou seja, podem exportam uma quantidade maior sem tarifas que variam de 80% a 176%. Segundo o presidente da Abiec, está ficando inviável para o Brasil exportar para a Europa com estas taxas.

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